M V Izquierdo

O Lado Esquerdo dos Blogs ou Aquele Blog Que Tem a Tal da Sacadinha...

Pesquisar neste blog

Translate

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Você me ama só porque eu sou de Áries.

Um homem passivo (por vezes paciencioso, que este é melhor)- desses que se deixam com os pés descalços na areia molhada, onde a maré começa e se agita, só para se sentir andando, sem sair do lugar, - típico capricorniano esquecido de si mesmo, viu a sorte nos meses de março e abril:

Os tais arianos adoram os excêntrios, os esquecidos (arianos são os que viram a luz nos tais meses); mas que tem isso a ver?

Veja bem: de que formas aqueles calados de coração, dissimulados de olhos, e ardilosamente imprudentes de lápis na mão, teriam impulsos de expressão, se não fossem os arianos? estes, curiosos, imaginativos, prontos para elucidar os estratagemas capricornianos; que amam as artes, prontos para ver o esboço por traz da pintura capricorniana; que tem sensibilidade, e acham, precipitadamente, que podem entender um capricorniano -mas que se esquecem que já eles lhes falam tudo que têm, mas que se esmeram por fazer com que arianos (dos meses de março e abril) acreditem que exista mais.

Porque existe.

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Enciclopédia? O que é isso? Que tempos estamos.

E a enciclopédia volume I olha para o computador do outro lado da sala, e diz para o volume II:
-Hei, acorda!
-O que foi? fala o volume II, sonolento.
-Olha para o garoto no PC.
-O que tem, Vol I?
-Tá dando pau!
-E daí? já deu outras vezes. Ele vai para o notebook, depois.
-Eu sei, mas olha para a pesquisa dele! "América"! "América"!
-O que tem isso, Vol I?
-Matéria que eu domino! Tem letra "A", Vol II.
-Aposto que está mais atualizado na internet. Convenhamos, estamos velhos.
-Mas a pesquisa é colonização.
-Tudo bem, tanto faz.
-Tanto faz? Ele pode pesquizar por "colonização".
-O que tem isso?
-Quem aqui domina a letra "C", por acaso, Vol II?
-Ó meu Deus, sou eu! você tem razão! Precisamos fazer com que o moleque olhe para nós! Não acredito, eu posso ser acessado, novamente.
-Acessado? traidor... Olha para o garoto, levantou da cadeira. Está olhando para nós, Vol II! Está vindo!
-Treme aí, Vol I, você é América!
O volume I e II começam a espantar toda a poeira que os guardou durante os anos. O garoto olha, entrigado, para o balanço das Enciclopédias.
-Ele percebeu, Vol II!
O garoto pega a o Volume I e se vai.
-Hei, Vol III, você viu a sorte do Vol I?
-Poisé! Quanto tempo que eu não via uma coisa dessas acontecendo, disse o volume III.
O garoto volta, depis de um tempo, com o volume I, e o guarda em seu lugar de costume.
-Falaí, Vol I, como foi a experiência. Há tanto tempo que isso não acontecia!
-Tem razão, Vol II, mas não foi tão bom, assim.
-Ora! por que não?
-Ah! o garoto vai entregar uma xerox, minha, Vol II!! Uma xerox minha! E ainda por cima escreveu no topo da folha: tirado do site...
-Nossa. Que horror. Que tempos estamos!
-Nem me fale. O garoto falou para a mãe dele que tinha vergonha de ter tirado o trabalho de um livro.
-Que tempos estamos.
-E sabe qual é o pior, Vol II?
-Qual, Vol I?
-Na capa, o maldito esqueceu do acento de "América"! Do acento! E olha que de acentuação eu entendo!
-Que tempos estamos.

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Palavra-escuma.

"Andei perdido. Cheguei agora; mas encontrei o caminho sozinho.

"Não se intusiasme! deixe o sentido usual das coisas para quem não tem flexibilidade bastante para transbordar seus próprios desejos.
Expandir é se conhecer, e deixar os outros confusos (confusão divertida, erotizada: mar lascivo esse que embaralha as palavras. Quem bebe dessa água, sente mais sede)."

terça-feira, 13 de outubro de 2009

Aparição infantil.

No cemitério antigo, dos índios da Amazônia, o jovem indiozinho deixou um recado do Cacique: "estão todos convocados para festa dos mortos".
O sol já dormia e o dia ficou triste. O canto dos índios se fazia soar; a merencória cadência se unia às estrelas, e o saudosimo inundava a taba que os abrigava.
As mulheres dançavam, ao fundo, os passos de uma glória antiga; os homens fumavam em contorno, orando para aqueles que já se foram, virem às suas presenças, e guiarem aqueles que ainda podiam fumar pelos mortos.
Após o canto, o silêncio fez audível os sons dos insetos, e a voz dos espíritos pôde ser ouvida.
Quem apareceu era uma criança, que nada tinha de índio: era louro de olhos azuis. Os homens esgasgavam com a fumaça e se espantavam com o espírito. Criança?
O que Tupã, o deus dos índios, dizia com aquilo?
Esperaram para ver se falava. Todos olhavam para a cândida aparição, ansiosos por palavra.
O Cacique, o mais velho da tribo, com sua experiência e vivência espiritual, atinou-se de que somente criança entederia criança! Chamem o indiozinho!
Com olhos engrandecidos de medo e curiosidade, o pequenino, que ainda nem homem e caçador era, viu que os grandes da Taba pediam por seu socorro; o que faria ele, assim tão pequeno?
Trazido pelas mãos do pai, o indiozinho foi levado à roda dos homens, e posto diante da aparição de cabelos de sol. Os meninos olharam um para o outro, se estudaram; gritaram os dois palavras irreconhecíveis, língua essa talvez própria da puerilidade. O lourinho olhou para o indiozinho, sorrio e se foi, evaporou junto com a fumaça dos cigarros.
Os homens, impressionados com o poder da criança, puxaram o garoto pelos cabelos, trazendo-o para o meio da roda, e perguntaram:
- E então, o que era?
- Era um recado para as crianças.
- Qual? Diziam em coro.
- Veio desejar feliz dia das crianças para nós.
- Oh, em coro.
O menino foi puxado, pelos cabelos, devolta à mãe.
E o Cacique disse aos companheiros:
- Da próxima vez, quem vai entregar o recado sou eu.

domingo, 27 de setembro de 2009

Bem, que engraçado é a comunidade de doces de geladeira, não é?

Bem, que engraçado é a comunidade de doces de geladeira, não é?
Pense bem: goiabadas, quindins, tortinhas de morango, em entrelace cordial com os doces de, digamos assim, menos respeito, como leites condençados e coberturas de chocolate; estes, todos utensílios para um doce de maior pompa; e que, apesar das desavenças, se respeitavam e se aturavam.
Mas em um dia, domingo, para contemplar maior exatidão a você, leitor, houve a desgraça: o limão, em sua sesta habitual da tarde, foi surrupiado e impiedosamente espremido no leite, o Senhor da Geladeira. Coalhado e sem forças, o Leite gritou em seu socorro.
Os ovos choraram claras em neve; a margarina ficou rançosa, espavorida pelos lácteos gemidos; os morangos mofaram, ali mesmo na caixa, herméticos e apertados; o arroz grudou na penela; e não me atrevo a pautar o acontecido com queijo: desgraça.
Quem houvera, daquela forma impiedosa e violenta, atentado contra o pudor do Longa Vida - que, em agonizantes delírios, lembrava com tristeza o dia em que fora retirado da caixa e fervido - , e produzido tão horroroso iogurte?
Os doces de grande imponência perderam sua doçura natural e culparam a réles, os doces subalternos, pelo coágulo branco que se tornou o Leite, querido de todos.
Como forma de imposição, os doces menores levantaram placas em desesperado protesto; gritaram frases de efeito e, até mesmo, cogitaram revolução, como ato alucinado contra a opressão a que estavam sendo submetidos.
Sem mais forças, os doces opressos decidiram que era hora de partir: o ambiente esquentara.
A Geladeira, casa querida, foi deixada logo pela manhã do dia seguinte. Suados e a ponto de perder a validade, encontraram abrigo ao lado de colossais camadas de gelo, no Freezer, a metros de distância do Refrigerador.
Na Geladeira, o leite se encontrava em bom estado, apesar de tudo. Sobrevivera. E, com poucas forças, relatou o acontecido: O limão, dormindo, viera rolando, sonâmbulo, e, num ato de auto-flagelo, espremera-se, chovendo na cabeça do Leite. O limão, já seco e sem caldo, foi desculpado, e a culpa insuflou os poros de todos naquele frio ambiente que se tornara aquela morada, após o ato criminoso que cometeram todos, culpando os doces de baixo escalão; até as verduras choraram, suando a gaveta em que descançavam.
Os respeitáveis doces, já não tão respeitados, sairam à procura de seus colegas, mas não os acharam, e apodreceram no inóspito calor em que estavam. Uma semana depois, todos foram comidos, e Leite, infelizmente, jogado fora, agora, desconjurando com mais afinco ainda o fatídico dia em que fora retirado de sua caixa.
E quanto aos doces congelados? Estes foram encontrados e devolvidos ao Refrigeirador, agora, aclamados como heróis, que lutaram por uma causa; que sofreram atrocidades e não se rebaixaram àqueles que não os respeitavam.
Foram eternamente lembrados.
Bem, que engraçado é a comunidade de doces de geladeira, não é?

Sentimentos escolhidos e recolhidos. Escolha ver por este ângulo.

Intervendo; escolha ver por este ângulo.

Ver a mesma coisa de forma, sentimento diferente, causa sempre novas sensações.
Pensar até mesmo que o meu dia e o seu (leitor), acabarão por mediar o que se escreve e se lê; como se escreve, como se lê.
Até mesmo o silêncio, ontem e hoje, pode ser ouvido diferentemente, dando-lhe novo corpo, forma.
Ou mesmo o que aqui está escrito, se alinhe em você; faça com que você estranhe, se aperceba, se lembre (tudo sem complemento, porque é de você e sua vida que vêm o resto), se deite na pequena cadeira que o conforta, e se sente na cama que o espera.
O que lê agora, fará com que veja tudo com o passado que o segue; com o sono que o fez dormir; ou com que esqueça tudo isso, pois hoje o seu cansasso, o seu medo, a sua crítica, ou meu fraco poder de me expressar, farão com que vire os olhos para o lado oposto.

Tudo intervém; você é tudo o que também intervém.
Mediações.

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Poesia, tristeza e felicidade.

Em uma conversa sobre poemas e poesia (esta no sentido de sentimento, lirismo, retórica), tentamos dar nossas ideias sobre este assunto, uma amiga e eu. Acabamos chegando a pensamentos oposto sobre a matéria da poesia: para mim, algo que alcançasse uma tristeza, uma profundeza do ser (ou algo assim), e para ela, algo que também pudesse expressar alegria, além de levar alegria.

Perdoem-me novamente o romantismo e o poeticismo, mas a mim me ajuda muito o treino com as palavras.

Pensei sobre isso e fiz uma tréplica:

A poesia, ao meu ver, são segredos da alma, que assopramos com a caneta no pé do papel. Quem o ouve, estranhando a veracidade da matéria poética, retira das palavras o sentimento escuso do segredo, e não sente a necessidade de traí-lo (ao papel? que inútil o seria!), derramá-lo para outros.
Na folha suja, descaracteriza-se o segredo, sobrando apenas, para o leitor, aquele arroubo de espírito e atrevimento, que somente a intimidade alheia lhe traz.
E quanto ao sentimento de solenidade (amor, amizade, família...) e tristeza da poesia, volto à ideia de segredo: segregar a própria alegria? a troco de quê?
Quem parar para racionalizar um sentimento de excitação e feliz enlevo, perde a chance de gritar.

Aos silêncios da alma, que sobre o hiprócrito silêncio do papel; que mudemos a calada felicidade.

Dedicado à Gabriela cravo e canela.

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Luzes desta estrela.

Apesar do tom romântico, o poema nasceu de uma frase que me veio há muito tempo, e, há pouco, me convenci de que um conto não se encaixava à ela, mas um poema, sim. A frase de que falei está por aí, não em sua totalidade, mas jogada. Esta não é a forma definitiva deste poema, mas um início; tenho grandes ambições para ela.

Luzes desta estrela

Mas que estrelinha pequenina
Esta que o Céu agorinha deixou
Veio à Vida brilhar mais perto
Daquela que sem saber a desejou

Mas que estrela pequenina
Esta que o Céu nos mandou
Veio voando de rumo certo
Era pequeno o alvo dela, mas o acertou

Mas que estrela pequenina
Esta que o Céu não nos negou
Enegreceu de saudades e choveu
Só para nos esconder que chorou

O Céu, orgulhoso como era
Não deixou o dia amanhecer
Segurou a noite com os dedos
Temeroso da sua estrelinha se perder

Mas viu Ele que que aquilo era um anjo
E que nada mais poderia fazer
Deixou sua estrela com uma menina
Para ela dar à Luz da estrela o seu amanhecer

Agora, aquilo que era estrela tem Vida!
Para das alegrias da Vida padecer
Brilhar de dia e a toda hora
Nos braços daquela que a fez nascer

Com tudo isso a Vida tomou nova importância
Nada ela pode deixar de oferecer
Para quem descobre o brilho infinito
O Brilho da estrelinha que nos ensina todo dia a viver

Que Clara seja nesta Vida
Tão Clara quanto puder
Que Clara lhe seja o alegre amanhecer
Ao Claro eterno, a Clara Virtude de Nascer

Decicado à Maria Clara, a Clarinha, filha da Samara, de 3 meses de idade.

terça-feira, 11 de agosto de 2009

Cego horizonte.

Em um desses dias passados há pouco, enquanto eu ia a um dos vários mercados de São Paulo, vi um certo acontecimento que me prendeu a atenção. Uma mulher, uma dessas desajeitadas e apressadas, que andava com uma criança no colo, seu filho, provavelmente, correu para atravessar a rua e acabou sendo atropelada. Atropelamento este banal (por mais triste que isso possa parecer). A criança foi subitamente jogada ao chão, e a mulher, completamente desesperada, voltou à calçada inicial, sentou-se no chão e, apoiando as costas na parede, batia os pulsos na testa e fazia uma conha com as mão; parecia rezar, ou rogar com desespero. Em meio ao tumulto, nada me foi mais extraordinário do que ver um homem (por mais triste que isso possa parecer), desses bem vestidos, de terno, andando pela rua passivamente caótica. O homem, despropositadamente olhava para baixo enquanto andava, e, ao passar ao lado das mãos desesperadas da mãe desesperada, jogou-lhes uma moeda e se foi. Um fato milhares de vezes mais irrisório do que a euforia do público que se indignava com a mãe oradora e apática, deitada no chão, ou até mesmo do que a dor da criança, mas perfeitamente mais comum do que estes.
Da criança nada sei, e nem me atrevo a especular ou adivinhar o estado da mãe; mas o homem sei que vai bem, e feliz pelo autruísmo que exercitara com a ajuda à mulher desesperada e enlouquecida, provavelmente de fome, pensa ele; isto me atrevo a premeditar.
Não só neste fato mora a ironia e o paradoxo. Quantas vezes, nós mesmos, deixamos de olhar para a frente e para o lado ao andarmos, achando que abaixo de nós é que o mundo se instaura.

O acidente está debaixo dos olhos de quem o enxerga.