M V Izquierdo

O Lado Esquerdo dos Blogs ou Aquele Blog Que Tem a Tal da Sacadinha...

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terça-feira, 11 de agosto de 2009

Cego horizonte.

Em um desses dias passados há pouco, enquanto eu ia a um dos vários mercados de São Paulo, vi um certo acontecimento que me prendeu a atenção. Uma mulher, uma dessas desajeitadas e apressadas, que andava com uma criança no colo, seu filho, provavelmente, correu para atravessar a rua e acabou sendo atropelada. Atropelamento este banal (por mais triste que isso possa parecer). A criança foi subitamente jogada ao chão, e a mulher, completamente desesperada, voltou à calçada inicial, sentou-se no chão e, apoiando as costas na parede, batia os pulsos na testa e fazia uma conha com as mão; parecia rezar, ou rogar com desespero. Em meio ao tumulto, nada me foi mais extraordinário do que ver um homem (por mais triste que isso possa parecer), desses bem vestidos, de terno, andando pela rua passivamente caótica. O homem, despropositadamente olhava para baixo enquanto andava, e, ao passar ao lado das mãos desesperadas da mãe desesperada, jogou-lhes uma moeda e se foi. Um fato milhares de vezes mais irrisório do que a euforia do público que se indignava com a mãe oradora e apática, deitada no chão, ou até mesmo do que a dor da criança, mas perfeitamente mais comum do que estes.
Da criança nada sei, e nem me atrevo a especular ou adivinhar o estado da mãe; mas o homem sei que vai bem, e feliz pelo autruísmo que exercitara com a ajuda à mulher desesperada e enlouquecida, provavelmente de fome, pensa ele; isto me atrevo a premeditar.
Não só neste fato mora a ironia e o paradoxo. Quantas vezes, nós mesmos, deixamos de olhar para a frente e para o lado ao andarmos, achando que abaixo de nós é que o mundo se instaura.

O acidente está debaixo dos olhos de quem o enxerga.