No cemitério antigo, dos índios da Amazônia, o jovem indiozinho deixou um recado do Cacique: "estão todos convocados para festa dos mortos".
O sol já dormia e o dia ficou triste. O canto dos índios se fazia soar; a merencória cadência se unia às estrelas, e o saudosimo inundava a taba que os abrigava.
As mulheres dançavam, ao fundo, os passos de uma glória antiga; os homens fumavam em contorno, orando para aqueles que já se foram, virem às suas presenças, e guiarem aqueles que ainda podiam fumar pelos mortos.
Após o canto, o silêncio fez audível os sons dos insetos, e a voz dos espíritos pôde ser ouvida.
Quem apareceu era uma criança, que nada tinha de índio: era louro de olhos azuis. Os homens esgasgavam com a fumaça e se espantavam com o espírito. Criança?
O que Tupã, o deus dos índios, dizia com aquilo?
Esperaram para ver se falava. Todos olhavam para a cândida aparição, ansiosos por palavra.
O Cacique, o mais velho da tribo, com sua experiência e vivência espiritual, atinou-se de que somente criança entederia criança! Chamem o indiozinho!
Com olhos engrandecidos de medo e curiosidade, o pequenino, que ainda nem homem e caçador era, viu que os grandes da Taba pediam por seu socorro; o que faria ele, assim tão pequeno?
Trazido pelas mãos do pai, o indiozinho foi levado à roda dos homens, e posto diante da aparição de cabelos de sol. Os meninos olharam um para o outro, se estudaram; gritaram os dois palavras irreconhecíveis, língua essa talvez própria da puerilidade. O lourinho olhou para o indiozinho, sorrio e se foi, evaporou junto com a fumaça dos cigarros.
Os homens, impressionados com o poder da criança, puxaram o garoto pelos cabelos, trazendo-o para o meio da roda, e perguntaram:
- E então, o que era?
- Era um recado para as crianças.
- Qual? Diziam em coro.
- Veio desejar feliz dia das crianças para nós.
- Oh, em coro.
O menino foi puxado, pelos cabelos, devolta à mãe.
E o Cacique disse aos companheiros:
- Da próxima vez, quem vai entregar o recado sou eu.
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